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20-Out-2009 | |
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O Bloco de Esquerda deve evitar duas reacções assimétricas:
i) parar para balanço e/ou catarse, diminuindo o fulgor do impulso
que se exige
no primeiro embate com o Governo Sócrates versão soft e
) varrer para o tapete qualquer tentativa de reflexão sobre os
resultados
das autárquicas, esquecendo-os com o passar do tempo.
Na verdade, muito já foi dito, mas nem sempre as posições
no «espaço»
do Bloco são devidamente claras ou construtivas. Eis os meus
argumentos:
1. O Bloco escolheu acertadamente encarar as europeias como um preparativo
das legislativas e assinalar estas como o seu principal objectivo, largamente
alcançado com mais de meio milhão de votos e a duplicação do grupo
parlamentar. Neste contexto, as autárquicas tinham uma lógica e um valor táctico
e estratégico claramente subalterno.
2. Da anterior opção resulta a deliberação de não aceitar coligações para as
eleições autárquicas.
Tantas e tão recorrentes foram as dúvidas junto do nosso eleitorado sobre
eventuais parcerias
governativas com o PS (amplamente detestadas), alimentadas quer pelos media,
quer por algum discurso dentro do «espaço» Bloco, que, importa escrevê-lo, a serem concretizadas tais coligações
(que em tempos ingenuamente defendi ao nível do Porto) teríamos perdido, seguramente,
uma parte substancial do grupo parlamentar que temos.
3. Do ponto de vista estritamente pessoal, congratulo-me por, nestascircunstâncias,
ter objectivamente contribuído para o sucesso do Bloco nas eleições legislativas,
ainda que disputando a frente autárquica.
4. De qualquer forma, importa também acrescentar, a especificidade do programa
autárquico do Bloco esteve bem visível e seria muito difícil, mesmo noutras circunstâncias políticas, promover coligações em Lisboa (com o negocismo descarado de António Costa) e no Porto (com a candidatura confusa e auto-derrotada de Elisa Ferreira).
5. Nada impede, no entanto, que os nossos deputados municipais e membros
das assembleias de freguesia, uma vez eleitos, participem em convergências de
esquerda ou assumam mesmo,
nos casos das Assembleias de freguesia, responsabilidades executivas para
servirem as populações sem traírem os programas pelos quais foram
escolhidos e ganharem experiência, enraizamento, envolvimento.
6. O Bloco enganou-se num ponto: as autárquicas são, claramente, o terreno
preferencial de uma lógica de política despolitizada e de subjugação ao
exemplo da «obra feita» e aos inefáveis carismas do presidencialismo municipal.
Ainda assim, nada nosdeverá impedir, juntamente com o funcionamento em
rede dos nossos eleitos, a sua formação e actualização
permanentes e a respectiva implantação territorial (incluindo
a possibilidade, caso a caso avaliada, de assumirem responsabilidades executivas),
em insistirno desvendamento de modelos de desenvolvimento erráticos, na crítica à
falta de transparência, à corrupção e ao caciquismo, trazendo a ideologia onde
ela sempre esteve, ainda que tantas vezes oculta sob o diáfano manto do «interesse
geral das populações». Mas devemos fazê-lo no concreto, com
os exemplos locais e ventilando, igualmente,propostas específicas
de resolução de problemas.
7. Poderia ter sido de outra forma? Poderia. Mas, nesse caso, esqueçam
as legislativas e virem tudo ao contrário.
João Teixeira Lopes
af
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